terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Perfil epidemiológico da malária no Estado do Tocantins, Brasil, no período 2003 a 2008.

A malária humana, como doença parasitária de evolução rápida, continua sendo um grave problema se saúde pública. Nenhuma outra doença parasitária, transmitida ao homem através de alguns mosquitos do gênero Anopheles, atinge e mata um número tão grande de pessoas. Além de colocar sob o risco de contrair a doença cerca de 40% da população mundial residente em áreas tropicais e subtropicais, a estimativa é que surjam de 300 a 500 milhões de novos casos/ano e ocorram de 1,5 a 2,7 milhões de óbitos anuais, sendo em sua maioria crianças com menos de 5 anos de idade (LOU et al., 2001; BRASIL, 2006).
A infecção é causada por um protozoário unicelular do gênero Plasmodium e cada espécie tem características diferentes para a doença. No Brasil, as espécies mais frequentes que causam infecções em humanos são: P. vivax, responsável por 83,7% dos casos registrados, P. falciparum, por 16,3% e P. Malariae, raramente observada OLIVEIRA-FERREIRA et al. (2010). No entanto, estudos conduzidos por ARRUDA et al. (2007) revelou uma discrepância entre a prevalência de anticorpos contra o P. malariae com os casos de malária notificados oficialmente. Segundo os autores, a baixa incidência de relatos sobre esta espécie deve-se ao método de gota espessa, a técnica oficial para o diagnóstico de malária no Brasil, que não permite avaliar a diferença morfológicas das hemáceas infectadas com P. vivax e P . malariae, e isso pode levar a uma identificação equivocada da espécie, subestimando a verdadeira incidência desta última.
A principal forma de transmissão da malária é através da picada da fêmea, do mosquito do gênero Anopheles infectada. Geralmente ocorre em populações vivendo em condições insatisfatórias de habitação e trabalho, ocupação desordenada do solo, exploração mineral, colonização agrária, projetos de assentamento e colonização agrária e a intensa migração das áreas rurais para a periferia das cidades (SILVEIRA e REZENDE, 2001). A qualidade, a extensão de medidas de protecção e os cuidados à saúde das populações expostas, influenciam positivamente no controle da doença (MARQUES e GUTIERREZ, 1994), mas as dificuldades enfrentadas para reduzir os fatores de risco econômicos e sociais na Região Amazônica, dificultam a eliminação da doença (OLIVEIRA-FERREIRA et al., 2010).
Em relação à profilaxia, não existe uma vacina disponível que protege contra a malária. Para estar mais protegido, as pessoas precisam permanecer informadas sobre os riscos de contrair a doença, estabelecer medidas de proteção adequadas e, ainda assim, estar ciente de que todos os métodos de prevenção podem falhar. Se isso ocorrer, o diagnóstico precoce e o tratamento, tanto adequado quanto oportuno, são hoje os principais alicerces para o controle dessa doenaça (BRASIL, 2008).
No continente americano 36,5% das pessoas vivem em áreas propícias à transmissão da doença (IDHS e PNUD, 2005). Na América Latina, os países que dividem a floresta amazônica (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Brasil, Guiana Francesa, Guiana e Suriname), sofreram o maior impacto do problema em 2004, com 91% dos casos de malária e 79% de mortes atribuídas à malária, e o Brasil, contou com 52,27% do total de casos, seguido por Colômbia e Peru (OPAS, 2005).
Na área brasileira, 99,8% da malária encontra-se na Amazônica Legal, comprosta pelos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (BRASIL, 2008). A região possui características geográficas e ecológicas altamente favoráveis ​​à interação do Plasmodium e do mosquitos Anopheles, que associados a fatores sócio-culturais, econômicas e políticas dependentes do homem, originam diferentes níveis de transmissão endêmica (MARQUES e GUTIERREZ, 1994).
O Tocantins está localizado ao sudeste da Região Norte do Brasil e faz fronteira ao sul com o Estado de Goiás, ao norte com Maranhão e Pará, a leste com o Maranhão, Piauí e Bahia, e a oeste com Mato Grosso e Pará (IBGE, 2009). Apesar de pertencer à Amazônia Legal é atualmente considerado área não endêmica, mas com risco de transmissão de malária (BRASIL, 2006) e apresenta características climáticas e ambientais favoráveis ​​ao desenvolvimento do vetor.
Saiba mais e leia o artigo EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF MALARIA IN THE STATE OF TOCANTINS, BRAZIL, FROM 2003 TO 2008. anexado a este blog, e publicado na Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo. 2011; 53(3):141-147, May-June, 2011.  Site: http://www.scielo.br/pdf/rimtsp/v53n3/a05v53n3.pdf.
O estudo descreve o perfil epidemiológico da malária no Estado do Tocantins, no período 2003 a 2008, investiga a associação entre a frequência da malária e o crescimento populacional, classifica os casos por autóctone e importada, relaciona os índices da doença e analisa a distribuição dos casos por espécie de Plasmodium, faixa etária e gênero. Foram 19.004 amostras para malária investigadas, sendo 19% positivas; 73,32% por Plasmodium vivax, 21,80% por Plasmodium falciparum, 4,79% por infecções mistas e 0,08% por Plasmodium malariae. Os indivíduos masculinos representaram 76,95% e predominaram em todos os anos e faixas etárias, principalmente naqueles de 15 a 49 anos. Do total de casos, 34,27% tiveram origem autóctone e 65,73% importado. Durante toda série, a frequência da malária reduziu de forma significativa e, concomitantemente, reduziram os municípios com transmissão autóctone. Constatou-se que no Estado do Tocantins a malária é predominantemente importada, relacionada às atividades de campo. Por isso, é importante salientar a necessidade de manter medidas efetivas de vigilância em todo Estado e aprimorar ações educativas no sentido de orientar a população na busca pelo atendimento precoce.
Referências
ARRUDA ME, ZIMMERMAN RH, SOUZA RM, OLIVEIRA-FERREIRA J. Prevalence and level of antibodies to the circumsporozoite protein of human malaria parasites in five states of the Amazon region of Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2007;102:367-71.
BARBOSA WB. Levantamento epidemiológico de malária na cidade de Manaus em 2005. Rev Ci Med Biol. 2008;7:156-62.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Situação epidemiológica da malária no Brasil, 2006. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Situação epidemiológica da malária no Brasil, 2008. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Unidades Territoriais de cada unidade da Federação - Estado do Tocantins. Available from: http://www.sidra.ibge.gov.br. Accessed May 30, 2009.
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL DA PUC MINAS (IDHS); PNUD Brasil. OBJETIVO 6: combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças. In: Objetivos do Milênio. Belo Horizonte: PUC Minas; 2005. p. 76-116. Available from: http://www.virtual.pucminas.br/idhs/02_pnud/ODM_WEB/livro_4_dividido/livro4b_objetivo6.pdf. Accessed June 05, 2008.
LOU J, LUCAS R, GRAU GE. Pathogenesis of cerebral malaria: recent experimental data and possible applications for humans. Clin Microbiol Rev. 2001;14:810-20.
MARQUES AC, GUTIERREZ HC. Combate à malária no Brasil: evolução, situação atual e perspectivas. Rev Soc Bras Med Trop. 1994; 27(Suppl 3):91-108.
OLIVEIRA-FERREIRA J, LACERDA MVG, Brasil P, Ladislau JLB, Tauil PL, Daniel-Ribeiro CT. Malaria in Brazil: an overview. Malar J. 2010;9:115.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). A malária e as metas de desenvolvimento internacionalmente acordadas, inclusive as constantes da declaração do milênio. CD46/17. julho 2005. Available from: http://www.paho.org/portuguese/gov/cd/cd46-17-p.pdf. Accessed Nov 08, 2007.
SILVEIRA AC, REZENDE DF. Avaliação da estratégia global de controle integrado da malária no Brasil. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde; 2001.